Os escritores alagoanos Lêdo Ivo e Maria do Socorro Ricardo conversam sobre o papel da literatura na pós-modernidade, durante o I Festival Nacional de Poesia, em Florianópolis,
e citaram outro alagoano, Marcello Ricardo Almeida,
que escreveu:
"E a literatura de quem escreve consegue atravessar a calçada? Há quem não tenha certeza. Às vezes, a boca está cheia de um Ginsberg ou de outros intelectuais estrangeiros, ídolos de pano que nunca ouviram falar em Maceió ou em Santana do Ipanema, v.g., nem na Serra do Almeida, ou da Maravilha e do Poço onde muito se falou na existência de um cemitério de elefantes. Mas os adoradores de Caramuru salivam ao pronunciar Shakespeare, pronunciar Joyce, pronunciar Kafka, pronunciar Brecht, pronunciar Elliot, cumming, Rimbaud, Whitman; e dizem muitas partes de seus livros numa decoreba típica de quem sofre do Complexo de Caramuru. Eles elogiam Fausto, de Goethe, mas se enojam dos poetas de cordel. Será que escritores de lá têm os nomes dos escritores de cá na ponta da língua? Quantos, aqui mesmo, conhecem quantos dentro das páginas de Alagoas? Alagoas estuda a Literatura Alagoana desde o ensino fundamental ao universitário?"
No lançamento do livro da escritora santanense, Maria do Socorro Ricardo, ocasião na qual a intelectual comentou sobre as fragmentações, nesta dinâmica do tempo atual de administradores municipais descuidados e ausência de comissão multidisciplinar que cuide da memória dos municípios, por trás de cidade que esconde a velha cidade para se fazer uma nova urbe, novas praças, novas-velhas ruas asfaltadas (ruas de pedras que recebem camada asfáltica), com resultados duvidosos, perda da identidade a bel-prazer de quem quer que seja, muitas vezes longe do desejo subjetivo dos moradores da cidade.
Maria do Socorro Ricardo autografa um de seus livros, neste momento, disse que as mudanças drásticas ocorrem por toda a História, referindo-se a vida meteórica de seu pai, o maestro José Ricardo Sobrinho. Quando eu olho o céu de minha cidade e imagino os trilhões de quilômetros, ou ano-luz, que me separam de todas essas outras vidas espalhadas no espaço infinito. A minha crença de que há continuação da vida após esta, leva-me a questionar: Se tudo é minúsculo, comparado às dimensões do universo, por que uns se dizem maiores ao se compararem aos outros? Enquanto o caos, além da Terra, de gás gelado... Volto ao nosso planeta...
Proferiu a escritora Maria do Socorro Ricardo em uma de suas palestras a alunos do ensino básico: "Houve uma época na qual as cidades foram absolvidas no rolo compressor dos interesses dos Estados, como se a cidade, a história da cidade, não fosse importante; pois é justamente a cidade quem alimenta o Estado; desde a origem, a cidade é o ponto primordial da vida do povo, onde se relaciona nas ruas, nas feiras, no comércio, na economia, na política, nos relacionamentos amorosos, nas religiões, nas festas".
A escritora santanense, Maria do Socorro Ricardo, em entrevista à TV, respondera: "Santana do Ipanema, que vem sendo modificada, sua vida de cidade sofre ameaças porque o que teve não tem mais. O que houve com os valores simbólicos santanenses? Santana do Ipanema contemporânea perdera a oportunidade em dialogar com esta outra Santana do Ipanema iconográfica e textualizada".
Homenageada a escritora santanense com músicas de seu pai, o maestro José Ricardo Sobrinho, a intelectual Maria do Socorro Ricardo registrou à História que, estes que amam, jamais poderão ser acusados de resistirem ao seu progresso, de agressores às belezas de sua cidade. Quase todas as modificações urbanísticas, as modernizações no aspecto da cidade, devem ser sempre bem recebidas por seus moradores – a tomar, por exemplo, a campanha Cidade Limpa realizada em São Paulo durante o primeiro mandato do governo municipal Gilberto Kassab. E preocupar-se com isto, que acabei de reproduzir, de grande monta, é como a amizade, o ser amigo da cidade, amigo porque ama, ama Santana do Ipanema, um dos municípios de Alagoas.